O ente, o ser e a
distinção
O ente é o dado
fundamental da metafísica, pois este pode ser definido como “tudo aquilo que é
objeto da nossa experiência”, é a casa do ser. De fato, o ente é um ser em ato.
A estrutura fundamental deste é a essência e a existência. Surge desta
proposição uma questão fundamental discutida desde a Metafísica Clássica: é
possível distinguir a essência da existência no ente? Antes de tentar responder
a esta questão, cabe definir o que é a essência e o que é a existência.
Essência é o que delimita o ser de cada ente, ou seja, aquilo que é. Já
existência, podemos definir como o ato de ser. Desta distinção conceitual,
dissertaremos sobre a solução do problema apresentado a partir da ótica de
alguns autores medievais.
Severino Boécio
(480-526) usa a fórmula esse (ser) e
id quod est (aquilo que é) para tratar da distinção entre ser e essência,
ou seja, o ser ainda não é, mas aquilo que é recebe a forma do ser (forma essendi). Ele afirma ainda que as
coisas concretas são o resultado da composição formada pelo ser e pela essência.
Para o filósofo
essencialista Avicena (980-1037), a existência é acidente da essência, logo, a
essência vem em primeiro plano. Sendo assim, ser e essência estão presentes na
alma, porém são elementos distintos. Maimônides (1135-1204) traz a seguinte
contribuição: existem dois tipos de entes, os entes contingentes nos quais a
existência é acidente da essência; e o Ente Necessário onde a essência é a
existência e a existência é a essência, no caso, Deus.
Já Tomás de
Aquino (1225-1274) compartilha dos ensinamentos dos autores trabalhados
anteriormente no que tange à distinção real entre essência e existência
adequando-os ao seu conceito intensivo do ser. Sintetizando o pensamento
tomista podemos dizer que existe então uma diferença entre o ser e a essência,
porém ambos são elementos necessários, essenciais e insubstituíveis do ente. Alessandra
Saccon,
sobre este ponto diz: “O termo ente reenvia aqui, em primeiro lugar, ao ato de
existir, antes, que a essência, porque é a existencial atual (o ato de ser) e
não o seu conceito que é fundamento do conhecimento de alguma coisa”.
De acordo com
Mondin, poucos seguidores da metafísica tomista entenderam a importância da
distinção real entre essência e ser. É o caso, por exemplo, de Francisco Suarez
(1548-1617) que concedeu uma diferenciação entre essência e existência apenas
como uma questão lógica. Para ele essência e existência são dois modos diversos
de conceber o mesmo ente. Por sua vez, Egídio Romano (1243-1316) considera
essência e existência como dois distintos modos do ser.
Neste sentido
podemos considerar que existe sim uma distinção entre essência e existência. No
entanto, após analisarmos os diversos pensamentos descritos, vemos que não há
uma separação entre essência e existência, pois ambos constituem o mesmo ente. Não
existe ente sem essência e também não existe ente sem a existência.
Carlos,
Jhonathan e Mário Henrique
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