sábado, 11 de outubro de 2014


O ente, o ser e a distinção

 


O ente é o dado fundamental da metafísica, pois este pode ser definido como “tudo aquilo que é objeto da nossa experiência”, é a casa do ser. De fato, o ente é um ser em ato. A estrutura fundamental deste é a essência e a existência. Surge desta proposição uma questão fundamental discutida desde a Metafísica Clássica: é possível distinguir a essência da existência no ente? Antes de tentar responder a esta questão, cabe definir o que é a essência e o que é a existência. Essência é o que delimita o ser de cada ente, ou seja, aquilo que é. Já existência, podemos definir como o ato de ser. Desta distinção conceitual, dissertaremos sobre a solução do problema apresentado a partir da ótica de alguns autores medievais.

Severino Boécio (480-526) usa a fórmula esse (ser) e id quod est (aquilo que é) para tratar da distinção entre ser e essência, ou seja, o ser ainda não é, mas aquilo que é recebe a forma do ser (forma essendi). Ele afirma ainda que as coisas concretas são o resultado da composição formada pelo ser e pela essência.

Para o filósofo essencialista Avicena (980-1037), a existência é acidente da essência, logo, a essência vem em primeiro plano. Sendo assim, ser e essência estão presentes na alma, porém são elementos distintos. Maimônides (1135-1204) traz a seguinte contribuição: existem dois tipos de entes, os entes contingentes nos quais a existência é acidente da essência; e o Ente Necessário onde a essência é a existência e a existência é a essência, no caso, Deus.

Já Tomás de Aquino (1225-1274) compartilha dos ensinamentos dos autores trabalhados anteriormente no que tange à distinção real entre essência e existência adequando-os ao seu conceito intensivo do ser. Sintetizando o pensamento tomista podemos dizer que existe então uma diferença entre o ser e a essência, porém ambos são elementos necessários, essenciais e insubstituíveis do ente. Alessandra Saccon, sobre este ponto diz: “O termo ente reenvia aqui, em primeiro lugar, ao ato de existir, antes, que a essência, porque é a existencial atual (o ato de ser) e não o seu conceito que é fundamento do conhecimento de alguma coisa”.

De acordo com Mondin, poucos seguidores da metafísica tomista entenderam a importância da distinção real entre essência e ser. É o caso, por exemplo, de Francisco Suarez (1548-1617) que concedeu uma diferenciação entre essência e existência apenas como uma questão lógica. Para ele essência e existência são dois modos diversos de conceber o mesmo ente. Por sua vez, Egídio Romano (1243-1316) considera essência e existência como dois distintos modos do ser.

Neste sentido podemos considerar que existe sim uma distinção entre essência e existência. No entanto, após analisarmos os diversos pensamentos descritos, vemos que não há uma separação entre essência e existência, pois ambos constituem o mesmo ente. Não existe ente sem essência e também não existe ente sem a existência.
Carlos, Jhonathan e Mário Henrique
 

 



 

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