É possível distinguir a essência da existência no ente?
Referindo-se
ao ser, existem dois conceitos, um forte que visualiza no ser a perfeição
máxima e um fraco que vê no ser uma mínima perfeição, sendo o conceito forte o
ponto de partida para a subida metafísica, no qual a sua carência ontológica o
leva para fora de si em direção ao ser subsistente. É necessário, para que se
prossiga com a investigação a cerca do ser, que distingua que ente não é ser,
mas é um processo limitado do ser; portanto a essência do ente não é o ser, e
como Tomás afirma, é “aquilo que vem expresso pela definição”, não significando
nem somente matéria, nem forma, mas o composto de matéria e forma. A saber que:
a nenhum dos entes deste mundo pertence a existência de forma necessária, e
portanto não está incluso na definição de essência, que possui em si mesma
apenas uma atitude em relação ao ser. No ente real a essência é atualizada pelo
ser, enquanto o ser se une a essência e compõe com ela uma totalidade
existente. Daí resulta que entre essência e ato de existir haja uma real
distinção formando, contudo, a totalidade chamada ente.
Severino Boécio, primeiro filósofo que deu maior distinção entre essência e ser, ou seja, o conceito de diferença ontológica, para isso ele usa a fórmula esse (ser) e id quod est (aquilo que é), devem ser entendidos de maneira diversa, o ser é a potência, ou seja, aquilo que não é, mas aquilo que é recebe a forma do ser (forma essendi). Assim ele afirma que a composição de todas as coisas necessitam destes dois princípios que são realidade supremas, e ainda considera a forma essendi como aquilo que atualiza o ser, que no entanto no ente ele não goza de uma própria substância.
Para
Avicena ser e coisa (essência e existência) estão presentes na alma, porém
possuem conceitos distintos: essência é aquilo que é, e existência é o modo de
ser, não a considerando como ato de ser, mas em modo de ser, necessário ou
possível. Ainda afirma que a existência é extrínseca à essência, considerando a
existência como acidente da essência. Maimônides, pensador hebreu da Idade
Média, concebe a existência como mero acidente daquilo que existe; logo, a
existência é acessória a essência daquilo que existe. Tal afirmação pode ser
embasada sobre a existência de Deus, cuja essência é sua existência, portanto,
é existência necessária.
Tomás
de Aquino baseando-se nos pensadores acima citados, reformula a doutrina das
relações entre essência e ser, não mais concebendo o esquema de
substância-acidente, mas sim, respectivamente, o esquema de ato e potência,
segundo o qual na falta de essência nem mesmo o ser se torna ato de alguma
coisa. Pode-se aí afirmar que tanto essência quanto ser são dois elementos
necessários e insubstituíveis no ente. Partindo deste pressuposto, Tomás chega no
que hoje é considerada a definição de essência, enquanto aquilo que delimita o
ser do ente, fazendo-o ser o que é e não outra coisa. Conclui-se que os entes
são finitos, na medida que possuem a perfeição do ser, do qual participa de
forma limitada, devido a essência, ou seja, a estrutura essência/ser é a
estrutura fundamental primária dos entes finitos.
José Amarildo, Matheus e Miguel
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